sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Será que a gente é gente?" (Plínio Marcos)

E até mesmo
A carne é lírica!
Assim me ensinou
Um Márquez, um Plínio, um Aluísio...
Mesmo que corte, a navalhada,
Mesmo que o sangue caia,
Mesmo que sambe o álcool,
Mesmo que curta o suor
E soe o alarido tétrico
De um amor pútrido, fétido,
No escuro, ou sob a sombra
De um abajur lilás.
Sim, gota a gota, na carne,
O lirismo cai!
Como o medo de morrer nu,
No pêlo;
Como a carne cortada e o sangue
E o cheiro;
Como umas labaredas, não de fogo,
De osso;
Como o lado podre do acaso,
O que dá nojo;
Como o que há de ser o último suspiro
Dum suicida qualquer;

Como um beijo na boca, ou entre pernas,
Emputrecidas;
Como odor pestilento e pesado
De um lirismo escondido;
Como uma porrada lírica na boca
Da gente;
Como gente, talvez, libidinosa e doce
Ou, quem sabe? Como o olhar bonito e ínfimo
Daquela gente esquecida!
Somos escravos
Do acaso, que,
Com seus dedos largos,
Crava-nos a seta
Bem no centro
Do peito.

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